Um novo olhar sobre o Vale do Silício

Luciana Carraretto

Luciana Carraretto

Quando a gente ouve sobre o Vale do Silício é natural associarmos às palavras: tecnologia, startups, Apple, Uber, e outras empresas conhecidas, certo? E se eu te disser que o Vale vai muito além disso?

Tive a grata oportunidade de estar 11 dias no Sillycon Valley, na região de São Francisco, Califórnia, em agosto desse ano. E eu fui pra ver muito mais do que Google, Youtube, Facebook e outras empresas residentes ali. Fui pra entender o que faz esse ecossistema tão propício ao nascimento de tantas startups de sucesso e que estão impactando o mundo.

A primeira coisa que você observa é a receptividade ao diferente. Andando pelas ruas (e eu fiz muito isso) aproveitei para observar a diversidade que preenche todos os espaços de San Francisco. Pessoas de países diferentes, etnias diferentes, sem falar nos estilos, cabelos, roupas. E isso é comum. Na verdade, é como se isso desenhasse o espaço onde vivem. Essa mistura enriquece a cidade, promove conexões amplas e um networking muito rico.

Isso pode soar pra você como diversidade, certo? Aqui no Brasil temos visto essa bandeira sempre em destaque. Mas vai muito além disso. Muito além, é consistente. O mindset é tão aberto que é como se o estranho, o esquisito, as loucuras fossem recebidos com um “tudo bem, bora fazer acontecer”, porque, pra eles, fugir do padrão, quebrar regras, ir contra o estabelecido é algo a se considerar e a criatividade flui com liberdade plena, sem interrupções, sem frases destrutivas como “você é sonhador”, “isso é loucura”, “isso não dá pra fazer”.

Um outro detalhe que eu e um colega observamos foi o foco. Eles possuem uma rotina um pouco diferente: acordam cedo, iniciam o trabalho cedo e geralmente deixam o local de trabalho com tempo para uma atividade física, para curtir a família e os amigos. Claro que isso tudo varia conforme o momento do projeto, da startup ou da função que ocupam. Mas, do momento em que entram no modo work, são extremamente focados. E isso, onde estiverem. Por exemplo: entrei no Starbucks uma manhã para comprar um chocolate quente. Eram umas 7 horas da manhã. A loja já estava cheia. Pessoas falando. Mas quem estava com seu notebook sequer desviava o olhar da tela para observar a movimentação. Estava imerso no que ali fazia.

O mesmo observei nos atendentes da loja da Powell St: extremamente concentrados nos pedidos, com a finalidade de serem eficientes. Sim, eficiência é outro ponto levado em consideração. Como disse, os americanos, em geral, levam o trabalho muito a sério. Por isso, o foco tem o objetivo de trazer o máximo de eficiência possível ao trabalho desempenhado. Do tipo, tempo x produtividade = eficiência. E isso realmente vale ouro.

Networking. Eu e você já ouvimos sobre isso. Mas, gente, como isso é levado a sério. Do tipo, muito sério! (risos). Acho que nós temos um conceito de networking um pouco diferente, por isso que pra gente não faz tanto sentido quanto pra eles. Mas em San Francisco, você pode estar no Starbucks tomando café do lado de um CEO de uma grande empresa. Sim, isso acontece. E ele para pra conversar com você, saber suas ideias, de igual pra igual. Afinal, você pode ser o criador de uma startup que ele vai comprar ou investir 🙂

E vai além. Eles têm alegria em conectar pessoas que possam se ajudar. Compartilhar ideias não é um risco, mas algo natural, pois ouvir a opinião do outro pode ser o diferencial pro negócio seguir ou não. Eventos para conectar pessoas têm sempre e existem até aplicativos para te mostrar sobre os happy hours que têm pela cidade.

Procurar alguém do Google ou de outra empresa no Linkedin e chamar pra um café? Soa absurdo né? Mas é como muitas das vagas são conseguidas lá. Na base da “cara de pau” mesmo, correndo atrás, fazendo conexões que te levem até quem decida. É sensacional isso, na minha opinião. Não só pela horizontalidade das relações, mas porque a comunidade fica integralmente fortalecida. É um torcendo pelo outro, ajudando como pode, pro ecossistema, como um todo, crescer mais rápido.

Para não me delongar, busquei consolidar em 10 pontos tudo que aprendi no Vale. É realmente inspirador e transformador, por isso, espero conseguir passar um pouco disso pra vocês.

  1. As pessoas possuem uma amplitude de visão, uma observação do macro, do ecossistema, e não apenas do que fazem ou produzem. Essa percepção é essencial para que sejam profissionais completos.
  2. A validade não está na ideia, mas na execução da ideia.
  3. Mentores e consultores são essenciais. Se ainda não tem, busque!
  4. Confiança. Acreditar na sua ideia é fundamental. O passo inicial.
  5. As pessoas falam sobre as ideias e compartilham sobre elas o tempo todo. Não existe esse negócio de “vou reter essa informação pra mim”. Muitas coisas se construíram e se constróem na colaboração.
  6. Nada se constrói do dia para a noite. É preciso foco, consistência e persistência.
  7. É preciso ter uma boa equipe.
  8. É preciso ter um diferencial sustentável e forte.
  9. A maior parte das startups morrem de suicídio e não de homicídio. 90% falham por conta de decisões internas.
  10. A cultura que se vive aqui não é apenas tecnologia. Vai além disso. É sobre construir valor. Business value.

Já foi ao Vale? Então, compartilha comigo as suas impressões! Grande abraço.

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